Após 25 anos, Incra anuncia compra de fazenda em Cascavel para criar assentamento

Área foi ocupada em 1999


Serlei da Silva Lima trabalhava na preparação da mandioca na comunidade Resistência Camponesa do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em Cascavel (PR), quando veio a notícia. Depois de 25 anos como ocupação, a área vai virar assentamento da reforma agrária. 

De 1999, quando a área foi ocupada, até 2024, o destino das 71 famílias viveu reviravoltas dignas de filme. Ficaram a uma canetada de ver a área regularizada. Mas aí, com o impeachment de Dilma Rousseff (PT), não saiu. Depois, ficaram a dias de enfrentar o despejo. Mas aí, com a pandemia, não saiu. Agora, num plot twist, receberam a portaria do Incra.    
“A gente ficou quase sem saber o que fazer, a emoção era tanta, depois de tanta luta que fizemos… Comemoramos, choramos, cantamos”, conta Serlei, atual dirigente do Resistência Camponesa, onde vive há oito anos. Sua trajetória no MST, no entanto, vem desde 1987, quando tinha 19 anos de idade. Chegou no movimento apenas três anos depois que foi fundado, a poucos quilômetros dali, na mesma cidade de Cascavel. Aos 56 anos, Serlei nunca esteve tão perto de ser uma assentada. 

Emitida no último 22 de maio, a portaria do Incra informa que a Fazenda São Domingos vai ser adquirida pela União para “fins de reforma agrária”. A área de 479 hectares está registrada no nome da empresa Refopas Agro Pastoril, da família Festugato.   

Na trave 
O Resistência Camponesa faz parte de um complexo que também inclui os acampamentos 1º de Agosto e Dorcelina Folador. O nome deste último é em homenagem a uma ativista sem-terra que foi prefeita de Mundo Novo (MS) pelo PT antes de, aos 36 anos, ser assassinada com seis tiros pelas costas em 1999.  

As três comunidades do MST estão em áreas da família Festugato. Mas foi apenas esta onde está o Resistência Camponesa que, em 2015, os donos de terra ofertaram para vender e o Incra se interessou.  

“A compra seria por R$11 milhões e só se justificava se nossa produção fosse agroecológica ou orgânica”, conta Ângela Lisboa Gonçalves. Filha de assentados, se apresenta como “militante sem-terra a vida inteira”.  As famílias desenharam seus lotes, se dividiram no território, projetaram as casas, aperfeiçoaram os cultivos. “A gente sonhou muito, foi um período muito gostoso”, recorda. 
Mas durou pouco. O governo Dilma (PT) não efetuou o pagamento do terreno antes do impeachment de 2016, que alavancou Michel Temer (MDB) à presidência. 

Em 2019, o primeiro ano de mandato de Bolsonaro e Ratinho Junior (governador), oito comunidades rurais foram despejadas no Paraná. Em 15 de dezembro um documento chegou à casa de Ângela. Indicava qual seria a próxima.


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