Descobridor do ebola comenta os impactos do clima no coronavírus

Redação - Douglas Souza

Veja o que se sabe até agora sobre o papel do clima na transmissão da doença e como outras pandemias se comportaram no mundo

Foto - Pixabay

Um dos descobridores do vírus ebola, em 1976, o pesquisador belga Peter Piot, quando indagado em um canal de notícias se o clima quente iria diminuir a curva de infecção do coronavírus, respondeu que ainda não há estudos suficientes para afirmar que sim. “Se tivermos sorte podemos dizer que sim, em clima quente a transmissão do vírus pode ser reduzida. Mas no atual momento não podemos contar com sorte quando estamos falando deste terrível vírus”, diz Piot. 

Segundo ele, se compararmos com outras doenças provocadas por vírus, como uma gripe normal, estatisticamente é mais comum a transmissão em condições de clima mais frio. Em Singapura, os casos do Covid-19 foram mais limitados, e se trata de um país mais quente do que a Itália que registra o maior número de óbitos desta pandemia em pleno inverno. Nesta estação, o clima na Itália, principalmente no norte do país, se torna rigoroso, com temperaturas oscilando entre 2°C a -14°C (dependendo da região).   

No entanto, a diminuição da transmissão de Singapura precisa ser relacionada também às medidas preventivas que foram tomadas no País, justamente por usar a China como exemplo, praticando o isolamento imediato de alguns infectados e o bom serviço de saúde local.

De acordo com as informações de Peter Piot, dependendo das condições climáticas, o número de casos pode declinar, mas eventualmente podem aumentar de novo com novas variações sazonais e da temperatura. Especialistas do clima acreditam que ainda existem muitas especulações porque não se sabe se a diminuição dos casos se dará por conta do fim do inverno no Hemisfério Norte ou ao ciclo da doença em diversos panoramas. Será que tem a ver com o ciclo do vírus ou o ciclo do clima? Independente de qualquer entendimento, é um erro concluir que por se tratar de um país tropical, os efeitos também não possam ser devastadores no Brasil.

As atitudes tomadas perante esta pandemia é que vão fazer toda a diferença para conter a disseminação da doença. Segundo Peter Piot, a única situação que ele se recorda da história que possa ser semelhante à que estamos passando hoje é a gripe espanhola que aconteceu há 100 anos e é considerada a mãe das pandemias.

A chamada gripe espanhola matou de 50 a 100 milhões de pessoas em 1918 e 1919. Esse número representa mais mortes do que o montante provocado pelas duas grandes guerras juntas. Mais do que o vírus HIVcausou em 40 anos. Foi e ainda é a maior pandemia de que se tem notícia. E o Brasil não passou ileso por ela. Por aqui foram cerca de 35 mil óbitos, entre eles o do presidente da época, Rodrigues Alves (1848-1919). 

Já a atual pandemia não pode ser comparada ao ebola, segundo alguns especialistas, como o cientista de dados  Ricardo Cappra. Em 2015, quando o mundo assistia aos horrores da propagação do ebola na África Ocidentalo surto da doença matou cerca de 11.300 pessoas. “A principal dificuldade que estamos enfrentando agora é o excesso de informação.É a primeira vez que lidamos com um vírus dessa magnitude e está difícil classificar e organizar os dados mais importantes para fazer uma análise em âmbito global: um vírus que é transmitido por uma gripe, e isso nunca foi feito”,diz Cappra. 

Ricardo Cappra acredita que teremos um contágio ainda maior quando o clima frio chegar. “Ainda estamos no início da crise, a doença está vindo de outro lugar. Os locais nos quais ela se alastrou mais rapidamente são justamente os que estão no inverno. E ainda vamos passar por isso”, diz ele. O outono começou nesta sexta-feira, dia 20, no Brasil. 

Para muitos, mais do que graus centígrados, o grande problema será a infraestrutura e a dificuldade que mais de 13 milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha de pobreza vão passar. Não há como praticar o isolamento em áreas superpopulosas que já são mais afetadas até em casos muito mais simples como as chuvas de verão. Algumas mortes não são indicadores pluviométricos e, sim, sociais. Portanto, é preciso ter cuidado para relacionar graus centígrados com o número de mortes associados ao coronavírus. A pobreza sempre foi prestigiada nas grandes desgraças. 

Ter mais qualidade de informação para que as pessoas lidem melhor com a doença é um dos papéis do jornalismo e do Canal Rural. Conscientização e medidas preventivas são necessárias, mas o pânico pode ser uma ferramenta ainda mais letal do que a própria pandemia. O pesquisador Peter Piot acredita que em alguns meses o Coronavírus estará em todos os lugares. Como vamos lidar com isso é que vai fazer toda a diferença. “É preciso montar a brigada de incêndio, antes da casa pegar fogo”, finaliza Peter Piot.

Fonte: Canalrural.com.br

Redação - Douglas Souza


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