Após oito anos, incêndio da Boate Kiss segue sem julgamento dos réus

Mesmo deixando 242 jovens mortos e 680 feridos, a maioria universitários, o caso segue sem julgamento dos réus

Foto - Wilson Dias/Agência Brasil
Hoje (27) fazem oito anos que ocorreu o incêndio da Boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Mesmo deixando 242 jovens mortos, a maioria universitários, o caso segue sem julgamento dos réus.

A tragédia que comoveu o país e gerou grande repercussão internacional ainda se arrasta numa novela sem data para terminar. Conforme a Agência Brasil, quase uma década depois, os quatro réus do caso ainda aguardam o júri popular, que não tem data para acontecer. Na melhor das hipóteses, ocorrerá em algum momento no segundo semestre deste ano.

De acordo com Flávio Silva, presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria, a situação é muito injusta.

"São oito anos de sofrimento e dor e, durante esses anos, a gente perdeu muitos familiares, pais de vítimas, que tiveram outras doenças, agravadas pela dor da perda, e acabaram morrendo".

Fundada cerca de dois meses após a tragédia, a entidade reúne pais e familiares das vítimas em busca de reparação. Flávio Silva perdeu a filha Andrielle de 22 anos, no incêndio. Na ocasião, ela estava na discoteca com mais quatro amigas para celebrar seu aniversário. Todas morreram asfixiadas pela fumaça tóxica liberada pelo fogo que consumia a espuma de isolamento acústico do local.

"A gente não teve tempo de curtir o luto, porque nós partimos do luto para a luta. Então, é uma questão de a gente tentar transformar a dor num ato de amor, que é esse ato de prevenção, e tentar salvar vidas".

Todo dia 27 de janeiro é marcado por homenagens às vítimas do incêndio de Santa Maria. Este ano, por causa da pandemia, a homenagem será virtual. A Associação de Familiares Vítimas e Sobreviventes da Tragédia organizou uma live para as 20h30 desta quarta (27), que será mediada pelo jornalista Marcelo Canellas.

A live contará com a  participação dos atores Tony Ramos, Chistiane Torloni, Dira Paes e a autora de teledramaturgia Glória Perez. Além disso, a mãe de uma das vítimas da tragédia, Ligiane Righi, e o jurista Jair Krischke, presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos do RS.

Mais cedo, por volta das 2h30 da madrugada, uma sirene do Corpo de Bombeiros tocou na cidade para lembrar o exato momento em que o incêndio começou, também como forma de homenagear os mortos.

Situação do processo
No processo criminal, com mais de 85 volumes, os empresários e sócios da boate Kiss, Elissandro Callegaro Spohr e Mauro Londero Hoffmann. Bem como, o vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos, e o produtor do grupo musical, Luciano Bonilha Leão. Todos respondem por homicídio simples (consumado 242 vezes, por causa do número de mortos) e por 636 tentativas de homicídio, de acordo com o número de feridos.

Ao longo do ano passado, enquanto o país mergulhava na crise sanitária por causa da pandemia de covid-19, três dos réus (Elissandro, Mauro e Marcelo) travaram uma batalha judicial vitoriosa. Isso para que a justiça transferisse o julgamento pelo júri popular da comarca de Santa Maria para um foro na capital, Porto Alegre.

Posteriormente, o Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS) opinou para que Luciano Bonilha também tivesse o desaforamento concedido, embora ele não tivesse requisitado a medida. Dessa forma, todos os réus poderão ser julgados numa única data e pelo mesmo júri.

Argumentos
Entre os argumentos para pedir o desaforamento do caso, os réus alegaram dúvida sobra a parcialidade dos jurados em Santa Maria, por causa da comoção da tragédia, e o ambiente mais distante e controlado da Justiça de Porto Alegre.

Distribuído por sorteio para a 1ª Vara do Júri do Foro Central de Porto Alegre, em dezembro do ano passado, o processo da boate Kiss agora aguarda a designação de um juiz titular para a Vara. Já que a magistrada que ocupa atualmente o posto, Taís Culau de Barros, assumirá novo cargo no Tribunal de Justiça do estado (TJ-RS) a partir de fevereiro.

Só depois que um novo juiz da 1ª Vara seja definido, é a justiça determinará que a data e o local do julgamento.  No entanto, a preocupação das famílias deve-se que o júri popular não seja a portas fechadas e permita a participação deles.

RELEMBRE O CASO
A tragédia na boate Kiss ocorreu na madrugada de 27 de janeiro de 2013, na Região central da cidade. Por volta das 2h30, um integrante da banda Gurizada Fandangueira, que fazia uma apresentação ao vivo e acendeu um sinalizador de uso externo dentro da casa noturna. Dessa maneira, as faíscas do artefato acabaram incendiando a espuma que fazia o isolamento acústico do local.

Desse modo, a queima da espuma liberou gases tóxicos, como o cianeto, que é letal. Foi justamente essa fumaça tóxica que matou, por sufocamento, a maior parte das 242 vítimas. Além disso, a discoteca não contava com saídas de emergência adequadas, os extintores estavam insuficientes e vencidos.

Por fim, os seguranças impediram que parte das vítimas saísse da boate durante a confusão. Por ordem de um dos donos, que temia que eles não pagassem as contas. (Com Rede Sul de Notícias).
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